segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dinheiro é uma metáfora, ou seja, uma coisa que significa outra coisa


Dinheiro é uma metáfora, ou seja, uma coisa que significa outra coisa. Não se costuma definir dinheiro nesses termos, mas, quando distanciamos o olhar daqueles familiares pedaços de papel desprovidos de valor intrínseco, a abordagem faz todo sentido, torna-se óbvia até.

Palavras e moedas têm algo em comum: dependem de consenso e só circulam onde são conhecidas. Uma moeda de valor ignorado é tão inútil quanto uma palavra de sentido obscuro. Jackson leva mais longe os pontos em comum entre moeda e palavra ao notar que ambas correm o risco de ser desvalorizadas: a primeira pela inflação, a última pelo clichê. O valor de uma e o sentido da outra não são naturais nem absolutos, mas sociais e relativos, decorrentes de um processo de aceitação generalizada pelo uso e costume. De outro modo, teríamos moedas e palavras particulares, o que é uma ideia descabida; se não fazem sentido para a sociedade, simplesmente inexistem, ponto. A ideia de que o dinheiro resulta de convenções sociais é tão antiga que está presente na própria etimologia da palavra que significa "moeda cunhada": numisma, que vem do grego nômisma e não por acaso tem a mesma raiz do termo que designa lei, nomos. "O dinheiro tem esse nome porque existe não por natureza, mas pela lei, e porque está em nosso poder mudá-lo ou torná-lo inútil", escreveu Aristóteles em Ética a Nicômacos, livro dedicado ao filho e discípulo

A própria noção do dinheiro pressupõe civilização, premissa cujo inverso também pode ser demonstrado: as civilizações costumam depender da existência de dinheiro, qualquer que seja sua representação. "O dinheiro é uma vasta metáfora social", afirmava o teórico das comunicações Marshall McLuhan, em texto da década de 60. Para o pensador canadense, o dinheiro é a linguagem que permite traduzir o trabalho de um agricultor no de um barbeiro, médico ou encanador, o que reforça os laços de interdependência numa comunidade. Nesse sentido, trata-se de um meio de troca ou de pagamento, definição que, com essa terminologia mais técnica, tem abrigo garantido em qualquer introdução à economia. Mas o dinheiro é mais do que isso