A força de um desenho
As crianças privilegiam uma folha de papel branca e lápis de cera para exprimir as suas opiniões, sentimentos e medos – muito mais do que a comunicação verbal. É esta a forma que a pequenada encontra para contar uma história que terá, invariavelmente, representações de cenas e de pessoas da sua vida real. Um desenho encerra um sem número de significados, presentes em pequenos pormenores que podem não ser imediatamente evidentes, mas que com um olhar mais atento podem revelar algo que possa estar a afectar a criança de forma negativa.
Meninos vs. Meninas
Quem já teve oportunidade de analisar desenhos criados por meninos e meninas rapidamente verifica que, na maior parte dos casos, existem diferenças notórias. Por norma, os desenhos de crianças do sexo masculino estão intimamente ligados à acção e à força, sendo por consequência mais escuros e até mais agressivos (podem incluir explosões, armas e monstros, por exemplo); enquanto os desenhos de crianças do sexo feminino estão mais voltados para a natureza e a serenidade, sendo mais contemplativos, belos e coloridos (incluem, não raras vezes, o sol, as nuvens, flores e personagens fantasiosas como fadas, por exemplo).
Como interpretar desenhos
Uma área específica e alvo de estudo intensivo, os desenhos infantis são matéria privilegiada no campo da psicologia, o que significa que nem os professores ou educadores de infância estão completamente treinados para decifrar desenhos. Porém, existem sinais de alerta, presentes nos desenhos das crianças, que podem despertar pais e professores para situações anormais. Os terapeutas especialistas afirmam que a interpretação dos desenhos deve ser feita consoante a idade da criança, ou seja, um desenho todo preto feito por uma criança de 2 anos pode não ter nenhuma conotação negativa, uma vez que esta ainda não tem uma consciência clara da escolha das cores, ao invés de uma criança mais velha, com 4 ou 5 anos. No entanto, os psicólogos vão mais longe nesta matéria e defendem ainda a importância de não avaliar o desenho isoladamente, mas de considerar, para além da idade da criança, a sua personalidade, o seu desenvolvimento cognitivo e ainda o seu historial de desenhos. Em adição, há, naturalmente, o contexto do desenho, ou seja, sugere-se que o adulto fale frequentemente com a criança sobre aquilo que desenha.
Deve estar atento a:
Cores utilizadas e vivacidade das mesmas
Força ou interrupção do traço
Existência de sombras
Isolamento de determinadas figuras (“fechadas” dentro de um quadrado ou de um círculo, por exemplo)
Ausência de determinadas figuras ou representação das mesmas numa escala muito reduzida
Agressividade de determinadas figuras
A criança passa a desenhar, continuadamente, cenários de violência
Desenha repetidamente a mesma figura
Se alguma figura é riscada ou apagada, depois de desenhada
Desenha figuras sem cabeça ou sem rosto
Não consegue desenhar-se a si próprio, numa imagem de família por exemplo
Desenha cenários que não são adequados à sua idade
O que fazer?
Não entre em pânico, nem proíba a criança de desenhar. O desenho tanto pode revelar algo negativo, como não. Mas, independentemente da conclusão final, é sempre preferível saber e descobrir atempadamente algo que esteja menos bem na vida da criança.
Como os adultos nem sempre vêem o que o imaginário das crianças (e a falta de técnica, compreensível nos mais novos) transpõe para o papel, é essencial manter um diálogo aberto sobre os desenhos infantis, sem recriminações, apenas muitos “porquês”. Procure descobrir a “história” por de trás de cada desenho.
Se verificou um ou mais “sinais de alerta” (transcritos na lista acima), é importante reunir os desenhos mais recentes da criança, para verificar se existe uma recorrência desse padrão ou não. Se necessário, marque uma reunião com a professora, de forma a poder também ter acesso aos desenhos efectuados na escola.
Fale com a criança sobre os desenhos em questão, tentando descobrir o que está por de trás dos mesmos, ou seja, a criança pode ou não dizer-lhe exactamente o que se passa ou o que se passou, por isso, será necessário estar atento às “entrelinhas”.
Se os desenhos da criança continuarem a alarmá-lo, procure ajuda profissional.
Acima de tudo, não desencoraje a criança de desenhar, esta é uma actividade lúdica, criativa e educacional, que deve ser praticada continuamente, até porque os seus benefícios são mais do que muitos.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
O desenho não é uma ilustração e não serve para medir a inteligência
O desenho não é uma ilustração e não serve para medir a inteligência. Ele significa muito mais do que isso; é uma projecção do eu corporal, como tal, pode permitir uma visualização dos conflitos psíquicos e relacionais. O desenho implica um movimento transferencial; é um compromisso entre a realidade interna e a realidade externa da pessoa, entre os processos primários e secundários.
Uma folha de papel, é, à partida, um espelho, havendo sempre a possibilidade de aí nos projectarmos. Pessoas há, que têm dificuldade em projectar o corpo no desenho, os seus fantasmas e os seus desejos (em regra, os adolescentes e os adultos).
O corpo é eminentemente um esquema que nos fornece coordenadas para o pensamentos e para os afectos, permitindo-nos aceder às representações mentais. A representação mental é pois, função do corpo próprio e toda a representação mental é eminentemente espacial.
Se entre o corpo e o afecto existe uma relação primordial, o desenho é um compromisso entre os nossos fantasmas e as nossas defesas. Assim sendo, é possível aceder à compreensão da realidade interna da pessoa, aos seus desejos e censuras.
As crianças até aos dez anos desenham fundamentalmente figuras humanas, imagens corporais habitadas por fantasmas e desejos. O desenho representa a projecção do Eu Corporal, casas, carros, são formas do corpo metamorfosear-se. É claro que a análise dos desenhos infantis é sempre subjectiva, tal como é único o perfil do psicólogo; no entanto, existem sempre características fundamentais nos desenhos que em norma são interpretadas do mesmo modo; por exemplo, uma árvore sem raízes poderá indicar insegurança, mas se for desenhada com frutos pode dar-nos algumas indicações sobre o investimento da criança relativamente a um ou aos dois progenitores; uma casa dividida pela cor pode representar um indício de alguma problemática entre os pais, etc.
As crianças pequenas começam por fazer rabiscos, garatujas. Quando há conflitualidade a criança risca com grande intensidade ou então desenha sem qualquer pressão, o que pode indicar uma provável inibição e uma falta de expansão do Eu.
Um aspecto a considerar também, é o modo de progressão do desenho; em regra ele faz-se no sentido da verticalidade. A criança adquire a noção do eixo (alto-baixo) e é quando a criança domina o seu espaço interno que começa a horizontalidade.
Paulatinamente a criança adquire um maior controlo motor e convergência visual e começará a desenhar círculos (um dentro e outro fora) representando a diferença entre o Eu e o não Eu. À medida em que acede à possibilidade do espaço de visão da mãe, sem que haja angústia de separação, “autonomiza-se”, criando agora círculos com pernas e posteriormente com braços, o que implica já maior maturação. Mais tarde desenhará de perfil e criará uma identidade própria e vai reconhecer-se ao espelho (quando tal não acontece é porque existem problemáticas graves ao nível da identidade). Na psicose, por exemplo, pode haver dificuldade em desenhar um círculo fechado.
Ter uma identidade, é ter um nome, é ter um rosto e é ter um sexo. O processo de identificação implica uma relação triangular; quando a criança ultrapassa melhor ou pior o Complexo de Édipo, tal, pode ser constatado no desenho através da sua profundidade, por exemplo, a inclusão de determinados elementos – o Sol, as nuvens, os campos, etc.
Quando há um espaço bidimensional e o dentro e o fora coexistem, uma casa, por exemplo, em que o interior é perfeitamente visível, tal, já nos dá uma perspectiva de alguma triangulação.
No chamado desenho de inclusão recíproca isto é, quando a criança desenha um personagem dentro de outro personagem (como nas bonecas russas), o que está dentro representa o mesmo que está fora; aqui, a criança ainda não vive no signo do materno, expressa alguma autonomização, mas também, uma grande necessidade da progenitora.
No desenho tridimensional é possível aceder ao processo de triangulação e ao investimento que a criança coloca nos progenitores. Em regra o Sol simboliza o paterno, uma casa simbolizará o materno.
Quando a criança não apresenta no desenho a tridimensionalidade, reduz as diferenças ao idêntico, tende a desenhar em simetria, e então, todas as árvores serão iguais, bem como as casas e as flores. Em regra estas crianças costumam fazer alergias.
As crianças com dificuldades em desenhar, que não gostam de brincar, que são muito agressivas, evoluíram num quadro de falso self, têm dificuldade em projectar-se através do corpo. Esta dificuldade em desenhar implica que a vida interna do sujeito é pobre e pouco subjectiva. É muito frequente os adolescentes traçarem figuras corporais tipo palito, simulando ou dissimulando, o que pode indicar dificuldades de expressão subjectiva.
Finalmente, na psicose, existe um excesso de vida fantasmática (implica o delírio) em que a imagem do corpo é fragmentada e os personagens, normalmente dissociados na folha, podem surgir suspensos no espaço aéreo (linha psicótica). Há confusão entre o dentro e o fora e, como não existe noção de limite, também não há possibilidade de estabilidade entre o dentro e o fora e um rosto próprio que indique permanência.
Uma folha de papel, é, à partida, um espelho, havendo sempre a possibilidade de aí nos projectarmos. Pessoas há, que têm dificuldade em projectar o corpo no desenho, os seus fantasmas e os seus desejos (em regra, os adolescentes e os adultos).
O corpo é eminentemente um esquema que nos fornece coordenadas para o pensamentos e para os afectos, permitindo-nos aceder às representações mentais. A representação mental é pois, função do corpo próprio e toda a representação mental é eminentemente espacial.
Se entre o corpo e o afecto existe uma relação primordial, o desenho é um compromisso entre os nossos fantasmas e as nossas defesas. Assim sendo, é possível aceder à compreensão da realidade interna da pessoa, aos seus desejos e censuras.
As crianças até aos dez anos desenham fundamentalmente figuras humanas, imagens corporais habitadas por fantasmas e desejos. O desenho representa a projecção do Eu Corporal, casas, carros, são formas do corpo metamorfosear-se. É claro que a análise dos desenhos infantis é sempre subjectiva, tal como é único o perfil do psicólogo; no entanto, existem sempre características fundamentais nos desenhos que em norma são interpretadas do mesmo modo; por exemplo, uma árvore sem raízes poderá indicar insegurança, mas se for desenhada com frutos pode dar-nos algumas indicações sobre o investimento da criança relativamente a um ou aos dois progenitores; uma casa dividida pela cor pode representar um indício de alguma problemática entre os pais, etc.
As crianças pequenas começam por fazer rabiscos, garatujas. Quando há conflitualidade a criança risca com grande intensidade ou então desenha sem qualquer pressão, o que pode indicar uma provável inibição e uma falta de expansão do Eu.
Um aspecto a considerar também, é o modo de progressão do desenho; em regra ele faz-se no sentido da verticalidade. A criança adquire a noção do eixo (alto-baixo) e é quando a criança domina o seu espaço interno que começa a horizontalidade.
Paulatinamente a criança adquire um maior controlo motor e convergência visual e começará a desenhar círculos (um dentro e outro fora) representando a diferença entre o Eu e o não Eu. À medida em que acede à possibilidade do espaço de visão da mãe, sem que haja angústia de separação, “autonomiza-se”, criando agora círculos com pernas e posteriormente com braços, o que implica já maior maturação. Mais tarde desenhará de perfil e criará uma identidade própria e vai reconhecer-se ao espelho (quando tal não acontece é porque existem problemáticas graves ao nível da identidade). Na psicose, por exemplo, pode haver dificuldade em desenhar um círculo fechado.
Ter uma identidade, é ter um nome, é ter um rosto e é ter um sexo. O processo de identificação implica uma relação triangular; quando a criança ultrapassa melhor ou pior o Complexo de Édipo, tal, pode ser constatado no desenho através da sua profundidade, por exemplo, a inclusão de determinados elementos – o Sol, as nuvens, os campos, etc.
Quando há um espaço bidimensional e o dentro e o fora coexistem, uma casa, por exemplo, em que o interior é perfeitamente visível, tal, já nos dá uma perspectiva de alguma triangulação.
No chamado desenho de inclusão recíproca isto é, quando a criança desenha um personagem dentro de outro personagem (como nas bonecas russas), o que está dentro representa o mesmo que está fora; aqui, a criança ainda não vive no signo do materno, expressa alguma autonomização, mas também, uma grande necessidade da progenitora.
No desenho tridimensional é possível aceder ao processo de triangulação e ao investimento que a criança coloca nos progenitores. Em regra o Sol simboliza o paterno, uma casa simbolizará o materno.
Quando a criança não apresenta no desenho a tridimensionalidade, reduz as diferenças ao idêntico, tende a desenhar em simetria, e então, todas as árvores serão iguais, bem como as casas e as flores. Em regra estas crianças costumam fazer alergias.
As crianças com dificuldades em desenhar, que não gostam de brincar, que são muito agressivas, evoluíram num quadro de falso self, têm dificuldade em projectar-se através do corpo. Esta dificuldade em desenhar implica que a vida interna do sujeito é pobre e pouco subjectiva. É muito frequente os adolescentes traçarem figuras corporais tipo palito, simulando ou dissimulando, o que pode indicar dificuldades de expressão subjectiva.
Finalmente, na psicose, existe um excesso de vida fantasmática (implica o delírio) em que a imagem do corpo é fragmentada e os personagens, normalmente dissociados na folha, podem surgir suspensos no espaço aéreo (linha psicótica). Há confusão entre o dentro e o fora e, como não existe noção de limite, também não há possibilidade de estabilidade entre o dentro e o fora e um rosto próprio que indique permanência.
Desenho infantil
Luquet Distingue Quatro Estágios:
1- Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e passa a nomear seu desenho.
2- Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.
3- Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista ( perspectivas ).
4- Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se juntar as produções adultas.
Marthe Berson distingue três estágios do rabisco:
1 - Estágio vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha formando turbilhões.
2 - Estágio representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.
3 - Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos adultos.
Em Uma Análise Piagetiana, temos:
1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:
• Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um exercício.
• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).
Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.
2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.
4 - Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras existiram.
5 - Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos em diante)É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico ( expressão subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período. Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a regra.
E ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referencias:
• De 1 a 3 anos
É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3 a 4 anos
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
• De 4 a 5 anos
É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.
• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.
• De 7 a 8 anos
O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Como podemos perceber o linha de evolução é similar mudando com maior ênfase o enfoque em alguns aspectos. O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção direta, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos, devemos porem lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos.
Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados.
1- Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e passa a nomear seu desenho.
2- Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.
3- Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista ( perspectivas ).
4- Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se juntar as produções adultas.
Marthe Berson distingue três estágios do rabisco:
1 - Estágio vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha formando turbilhões.
2 - Estágio representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.
3 - Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos adultos.
Em Uma Análise Piagetiana, temos:
1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:
• Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um exercício.
• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).
Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.
2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.
4 - Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras existiram.
5 - Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos em diante)É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico ( expressão subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período. Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a regra.
E ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referencias:
• De 1 a 3 anos
É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3 a 4 anos
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
• De 4 a 5 anos
É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.
• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.
• De 7 a 8 anos
O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Como podemos perceber o linha de evolução é similar mudando com maior ênfase o enfoque em alguns aspectos. O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção direta, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos, devemos porem lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos.
Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados.
DESENHO
O teste do desenho é mais um dos recursos ao qual o psicológico recorre como auxiliar da sua praxe seja na empresa, indústria, clínica ou escola. Em suas variadas formas, ele está presente nas atividades de seleção, avaliação e ajuda psicológica. Mas, afinal, o que se busca avaliar por meio do desenho nessas situações? Este artigo pretende esclarecer e contextualizar o teste do desenho, na tentativa de dissipar dúvidas que, quase sempre, angustia os candidatos quando submetidos, em particular, a esse tipo de instrumento nos processos seletivos. Campos (1999) destaca que o primeiro trabalho sobre o desenho como fenômeno expressivo, digno de menção, foi realizado em 1887, por Ricci, em Bolonha. O H-T-P (House - casa, Tree - árvore, Person - pessoa), é o teste projetivo mais usado em exame psicotécnico/seleção de pessoal, avaliação clínica, etc. Outros testes, mas apenas por meio da figura humana, a exemplo do Goodenough e do Machover, estão voltados para mensuração da inteligência infantil.
Nesse momento, se faz necessário uma breve descrição do H-T-P. Este teste é administrado à criança acima de 8 anos de idade, adolescente e adulto, cuja aplicação pode ser em nível individual ou em grupo. Seu tempo de realização é livre, mas, geralmente, não ultrapassa a média de 30 a 90 minutos. O material utilizado é papel ofício A-4 (tamanho ideal, não pode ser papel com pauta), lápis grafite n. 2 (de modo geral grafite é mais apropriado para desenhar, facilita o controle do tônus muscular sobre os traços, ao passo que o estereográfico é escorregadio). Os desenhos são feitos à mão livre, ou seja, sem régua ou objetos que sirva a essa função. Embora, o uso da borracha, por parte do aplicador, seja optativo, quase sempre compõe o kit, até porque que a sua utilização, por si, já consiste em motivo de análise. Quando se trata de criança, também se utiliza lápis coloridos, no que se constitui, assim, a Bateria Acromática e Cromática do H-T-P.
Na concepção de Buck (2003), o H-T-P tem como objetivo obter informação sobre como uma pessoa vivencia a sua individualidade em relação aos outros, e em facilitar a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflitos, identificados como o propósito de avaliação ou terapêutica. Ainda para o autor, “os desenhos também estimulam o estabelecimento de interesse, conforto e confiança entre o examinador e o cliente”(p.2). Sua técnica se respalda no “conceito de que os desenhos da figura humana”, bem como os da casa e da árvore, “são úteis para o estudo da personalidade ou como meio de diagnóstico na avaliação clínica, e se fundamenta na teórica na psicologia da imagem de si mesmo, assim como na teoria psicanalítica da projeção” (HARRIS, 1981, p.57- grifo nosso).
Para Levy (apud TRINCA, 1987), o desenho além de projetar a imagem corporal, usualmente compõe uma gama de projeções relacionadas ao autoconceito, a imagem ideal do eu, e as atitudes para com os outros, mesmo com o examinador na situação da testagem. O teste do desenho pode ser uma expressão consciente, como também incluir símbolos disfarçados e fenômenos inconscientes. O desenho da figura humana, segundo Alves (apud WECHSLER, 2003), é uma das medidas mais utilizá-las pelos psicólogos brasileiros, na maioria das vezes com o intuito de avaliação emocional mais do que cognitiva. A freqüência da utilização dessa técnica, certamente, se deve a sua composição simples, aparentemente objetiva e de baixo custo financeiro (HUTZ e BANDEIRA apud WECHSLER, 2003).
Ao examinando é solicitado, geralmente, um mínimo de três desenhos, e, em seguida se conduz o Inquérito1. Nessa etapa do Inquérito é extraído o maior número possível de informações e descrições subjetivas que o examinando discorre sobre cada uma das figuras grafadas. Cabe ressaltar que, na clínica, esse manejo é bem mais favorável de se consolidar do que num exame psicotécnico, por se tratar, quase sempre, de grupo. Para Deleuze (1997), o devir não é imaginário, bem como uma vigem não é real, ele faz do mínimo de um trajeto ou da sua imobilidade no mesmo lugar, uma viagem; e é esse percurso que leva o imaginário a um devir. Ao trazer esta afirmativa deleuziana para o contexto desta discussão, diríamos que este teste é o “devir”, e que o examinando é o “imaginário”. Daí a importância do Inquérito. Este, junto ao desenho funda as disposições de acesso ao indivíduo, com significativa e vertical compreensão do seu Eu.
Em outras palavras, é a fala do examinado, no seu sincero propósito de colaborar com o processo, que vai dar mais sentido, e legitimar mais ainda as expressões dos seus desenhos. Afinal, “toda linguagem é uma linguagem exposta à emergência dos efeitos do inconsciente” (NASIO, 1993, p.79). Nessa perspectiva, Deleuze (2006) ressalta que a estrutura se estabelece daquilo que é linguagem, seja ela esotérica ou não-verbal, do mesmo modo em que “só há estrutura do inconsciente à medida que o inconsciente fala e é linguagem” (DELEUZE, 2006, pp.238-9). O desenho é uma outra forma de linguagem por meio do qual o inconsciente também se manifesta. Para Campos (1999) o desenho na vez de técnica projetiva reflete uma impressão do “todo” do indivíduo, como uma “Gestalt”2 organizada, que aparece em toda a sua extensão, pelo olhar do examinador experiente na técnica da interpretação de desenho (grifos da autora).
A autora acredita que tudo esta no desenho, cada linha e parte em suas relações com as outras, o aspecto da sua elaboração com um todo apresenta um efeito unificado, diferente do Rorschach que, além de não apresentar tal clareza de interpretação, necessita de cálculos e escores. Enfim, “a projeção do Desenho é apreendido pelo clínico com uma unidade; o Rorschach deve ser tratado parte por parte” (CAMPOS, 1999, p.27). Por questões inerentes à conduta para com os testes psicológicos, não é possível esmiuçar aqui o significado específico do H-T-P, ou seja, em que se consubstanciam seus itens, isto, se não o invalidaria, entretanto retiraria um pouco do seu impacto avaliativo.
Existem os desenhos projetivos a exemplo do Zulliger (aplicação individual ou coletiva, por meio de slides ou apresentação de 3 cartões ou lâminas), e do Rorschach (aplicação somente individual, mediante a apresentação de 10 cartões ou lâminas), com os seus famosos borrões de tinta que se constituem de estímulos ambíguos. O indivíduo descreve, verbalmente, como os percebe. Feito isso, terá que destacar com lápis de cores variadas nas folhas de localização, uma espécie de marca d`água, os locais nos quais as imagens inspiraram suas respostas. O H-T-P é um teste projetivo, mas gráfico, isto o diferencia destes outros citados.
Os três desenhos do H-T-P trabalham com a mesma deliberação tendo em vista para a interpretação das características da personalidade,estado emocional, transtorno mental3 e outros. Convém salientar que, este teste, apesar da sua relevância tende a denotar aspectos patológicos dos quais quase ninguém escapa. Assim sendo, a praxe recomenda a aplicação de mais de um teste de personalidade quando da avaliação do item específico: Personalidade, e da importância de que o avaliador perceba em quais situações deve relativisar os seus dados qualitativos.
Segundo Van Kolck (1984), o indivíduo ao atender à solicitação - “desenhe uma pessoa” - lança sobre o papel a imagem corporal que possui e que se torna veículo de expressão de sua personalidade (p.14). A autora acrescenta que essa imagem não é apenas consciente, mas também construída como base no corpo do outro, e que não está ligada somente à aparência, mas, em especial, a qualidade da relação. A folha de papel em branco representa o mundo externo do indivíduo que nos desenhos livres é ocupada por objetos diversos sem conexão entre si, ou, pelo contrário, isolados, ou mesmo vazios de conteúdos (PICCOLO, 1995), e, por vezes, porque não, bem distribuídos, relacionados e harmonizados.
O sistema inconsciente, estranhamente, é colocado em dúvida por Nasio (1993), ao mesmo tempo em que indica o suposto lugar do seu trânsito. Para o autor, “se o inconsciente existe, ele só pode existir no interior do campo da psicanálise e, mais precisamente, no interior do campo do tratamento analítico” (p.49). Diríamos que o inconsciente está na vida, no cotidiano das pessoas, e em toda atuação psicológicas, embora umas abordagem priorizem, outras o pretira ou ignore. O inconsciente não é uma invenção de Sigmund Freud, nem patente da psicanálise. Segundo Mueller e Hergenhahn (apud GORSKI, 2005), se atribuem ao filósofo Gottfried W. Leibniz a descoberta do inconsciente muito antes de Freud tocar nessa tecla.
O desenho é uma das mais autênticas expressões do testando, uma vez que capta, em particular, conteúdos inconscientes, sem a sua intervenção. Embora ele possa até intuir que algo do seu interior, do seu Eu, irá torná-lo conhecido, mas não consegue ter o controle sobre o que será exposto. Isto certamente o angustia bem mais, porque o deixa vulnerável. Porém, a intenção não é deixá-lo numa situação desconfortável. Mas, esse teste se estrutura de tal modo que o examinando não consegue manipular informações ao seu favor. Posto que, ele não tem noção de quais aspectos dos desenhos serão considerados favoráveis ao seu caso.
Com exceção de figuras estereotipadas - a exemplo de coqueiro, bananeira e pessoa unidimensional ou feita de “palitos”-, que são impróprias para serem analisados porque não oferecem material suficiente, no teste do desenho não tem resposta certa nem errada. Logo, todos os componentes dos desenhos são analisáveis. A grosso modo, o H-T-P se compara a uma radiografia psíquica. Considerado o fato de que o candidato ou examinado não tem controle sobre os testes, durante o processo de seleção ou avaliação o mais sensato é procurar relaxar (fazer exercícios respiratórios, e manter os pés bem apoiados no chão, sobretudo e de maneira moderada nos momentos antecedem a sua realização, são fundamentais), e ariscar-se em: “Ser a própria pessoa, sem subterfúgios, ou representar algum personagem”, e ser cooperativo às realizações e às solicitações da demanda diagnóstica ou psicométrica. Uma vez que assim proceda, e essa postura é válida para todos os testes, estará facilitando uma melhor denotação do seu potencial, e como conseqüência um resultado mais satisfatório do seu desempenho.
Para um melhor entendimento do trabalho prático com desenhos, a seguir serão apresentadas quatro vinhetas de dois casos clínicos, e de dois exames psicotécnicos. Um paciente, médico, estava em crise no casamento. A sua esposa se queixava que isto se devia, em grande parte, à relação simbiótica do marido com os parentes, em especial ao seu apego à mãe viúva. O que era, veementemente, negado por ele, que se dizia independente e acostumado a se “virar” sozinho. Portanto, está casado ou solteiro lhe parecia, apesar deste seu segundo matrimônio, ser indiferente, etc. Solicitei que ele desenhasse a sua família.
Depois de relutar, de questionar a utilidade do desenho, meio indisposto do tipo: “Só vou fazer porque não tenho outra alternativa”, com o lápis esgrimiu rápidos golpes no papel. Este gesto que também tem outras significações, aqui se restringirá ao que foi explicitado: Quatro esboços do mesmo tamanho, similares, e um apêndice junto e a esquerda do primeiro esboço da seqüência. Cada garatuja como se fossem parênteses sobrepostos. Um menor “a cabeça”, em cima de um outro maior “o tórax”, e a base do primeiro, bastante rechonchuda em relação aos demais, representando os quadris.
Quando do Inquérito, apontei para que os nomeasse, o dos quadris largos era sua mãe, o apêndice que sugeria algo como: “Preso à barra da sua saia”, o paciente se auto-reconheceu, e os outros eram seus irmãos. Sugeri que fizesse um outro desenho, mas, com a sua família: mulher e filho (esta fora a intenção inicial). Desta vez apareceram figuras, mas sem se tocarem: Um homem, na direita do papel, olha para o oeste; uma mulher no seu lado esquerdo, olha para o leste, e uma criancinha dava a impressão de engatinhar alheia ao casal. Ao chamar sua atenção para estes detalhes, o paciente se conscientizou das suas dificuldades, e pareceu disposto a repensar e a assumir seu casamento.
Um outro paciente, este já em fase de ser liberado para cirurgia bariátrica, se dizia muito bem, e que havia superado o trauma de hospital, etc. Sugeri que ele fizesse a cena desse dia tão sonhado. No desenho bem elaborado - não quer dizer bonito, perfeito, mas, que seus componentes estão nitidamente representados -, se evidenciou uma figura de barriga enorme, deitada na mesa de cirurgia sob um grande refletor, e com os olhos arregalados em direção à porta. Ao longo do seu corpo três pessoas identificadas como o cirurgião, a anestesiologista e uma enfermeira. Com base nesse “olhar de pavor com desejo implícito de fuga”, ele resolveu adiar a cirurgia, por uns quinze dias, com o objetivo de explorar um pouco mais esse medo.
Uma examinada, no psicotécnico, achou que a perfeição do desenho seria considerada, daí reforçou e retocou todos os desenhos. Seu H-T-P ficou bizarro, e adquiriu uma outra conotação. Esse fato junto à mesma atitude no Teste Palográfico de reforçar os traços (palos), quando da contagem dos mesmos, contribuíram para a sua não indicação. Num concurso público bastante concorrido, uma candidata à vaga de Agente de investigação (função fictícia para dificultar associações), de repente, por conta de uma pergunta da sua concorrente, durante a realização de um teste, ficou agressiva, e bastante exaltada. Seu protesto tinha um pouco de pertinência, houve de fato uma pequena interferência, mas que não devia ter ocorrido. Porém, não chegara a prejudicar o andamento do todo.
Quando reunidos para discutirmos o caso, a psicóloga e o estagiário responsáveis pela sala, estavam se sentindo profundamente culpados e incompetentes. Na função de um dos membros da coordenação do evento, chamei a atenção de que lhes tinha faltado uma prontidão para conter essa interferência, mas que a reação da moça fora exageradamente desproporcional ao incidente. Na análise do seu teste, todos os desenhos, em especial o da figura humana apresentava vários indicativos de intensa agressividade. Chegou-se a conclusão de que a sua agressividade e tensão não eram reacional a situação da testagem, mas constitucional à sua personalidade. A candidata foi considerada, temporariamente, inapta para o cargo.
O desenho tem a função de estabelecer contato, investigação e tratamento. Na comunicação verbal o examinado poderá tentar conduzir, com seus argumentos, o interlocutor para determinado foco, persuadi-lo para o que julga ser crucial para conquistar a vaga. Daí a grande vantagem do desenho, o indivíduo não tem a chance de exercitar esse artifício. Assim como o corpo fala, o desenho diz por meio do inconsciente, aquilo que, por cautela ou autocensura, o seu autor não se permite verbalizar. No psicotécnico, os traços de personalidade identificados nos desenhos são comparados ao perfil que se exige para o cargo. Nesse caso, por vezes, sujeitos de elevado nível cultural e consideráveis características pessoais, não são contempladas. Do mesmo modo que, um outro, com menos potencial poderá se adequar melhor a essa função.
Num primeiro momento, esse processo, parece meio sem lógica e, em particular, cruel. Deve-se lembrar que este sistema é capitalista, e que a escolha de um candidato se dá em relação a diversos fatores. Alguns são bem específicos de cada empresa ou processo seletivo. Por exemplo, numa empresa na qual não haja perspectiva de ascensão funcional, colocar uma pessoa com elevado nível de escolaridade, inteligente, e criatividade, numa função “elementar”, sem possibilidade de crescimento, seria condená-la ao desajuste. Também seria motivo de constrangimento indicar uma outra para uma colocação que está além do seu potencial. Ela se desgastaria para atingir um nível razoável de satisfação produtiva, ou não atingiria, gerando frustração, ou mesmo, algo mais sério. Segundo Codo e Vasques-Menezes (apud ABREU et al., 2002), as pessoas entram em burnout4 ao se sentirem incapazes de investir em seu trabalho, e em conseqüência da incapacidade de lidar como o mesmo.
Um processo seletivo não é pensado em ternos emergenciais. Entre outros, também porque, contratação no Brasil, implica em encargos sociais altíssimos, etc. Na situação de desempregado há disposição sim, mas que, se não forem seguidos os parâmetros racionais de seleção, não há nenhuma segurança de que seja mantida. Atendida as necessidades básicas de subsistência, outras ocuparão o campo psicológico do indivíduo. Assim sendo, vem à tona o velho jargão, de que somente “o casamento da pessoa certa com a função”, poderá resistir às intempéries ocupacionais.
Entre os desenhos, é o da figura humana geralmente o mais realizado, mas, paradoxalmente, é também o mais rejeitado. Para Buck (2003), isso está associado ao nível de desajustamento do sujeito, uma vez que evidencia, mais diretamente, as dificuldades das relações interpessoais e a consciência corporal, mais do que a casa ou árvore. No que se refere aos dados de inteligência, aptidões, etc., feitas as suas devidas ponderações, pode se considerar os mais elevados escores ou percentuais. Ao passo que, na avaliação ou análise da personalidade propriamente dita, os aspectos mais comprometedores são vistos em relação à capacidade adaptativa. Junto a outros itens que poderão ajudar o paciente a superar as suas dificuldade, e, no caso do examinado, no psicotécnico, a enfrentar as situações. Por conseguinte, tenta-se fazer prevalecer o princípio de que, a parte mais saudável, uma vez destacada e valorizada, favorece as outras mais afetadas: “Como alguém conta comigo, eu sou responsável por minha ação perante o outro” (RICOEUR apud SENNETT, 2002: 174). Todo paciente, etc., por mais comprometido que pareça sempre apresenta algum “gancho” como ponto de partida para a sua ajuda.
Porém, nem sempre é fácil de desvelar áreas conflitivas, para perceber os potencias de um candidato, é preciso técnica e atenção, e, no caso clínico, paciência, bem como persistência, para encontrar e alargar as arestas que contribuam para a “cura” do paciente ou remissão do seu sintoma. Van Kolck (1984) salienta que além da projeção5, mecanismos como identificação6 e introjeção7 podem se manifestar, mas certamente a expressão e a adaptação são os dois processos que ocupam lugar de importância quando o desenho é concretizado. A adaptação, expressão e projeção, segundo a autora, estão explícitas no ato de desenhar. Assim sendo, mais do que qualquer outra especificidade de produção pessoal, deve ser visto com bastante critério os aspectos: Adaptativo que diz respeito à adequação à tarefa solicitada, sua correspondência em relação à faixa etária, sexo e, eventual, patologia; Expressivo que analisa o estilo característico da resposta que se mostra por meio gráfico da forma; e o Projetivo que verifica as situações e objetos que denotam conteúdo e a maneira de tratar o tema.
No teste do desenho, embora seu enunciado se refira “ao melhor que o examinado possa desenhar”, a estética ou beleza artística não é considerada, mas os conteúdos que estão representados. Histórias, críticas, sentimentos e emoções verbalizados durante a aplicação e no inquérito são dados complementares que podem até colaborar com o fechamento do Parecer de um Laudo. Tudo que o indivíduo faz, diz, escreve, desenha é uma projeção do seu Eu, ou são fragmentos de si mesmo. Ele pode até não ser exatamente aquilo, mas está de alguma forma, por meio desses sinais, representado. Van Kolck (1984) cogitar que há “casos de rejeição em graus diferentes de intensidade, a partir da negação a desenhar até o não complemento do desenho”(p.10 - grifo da autora).
Na situação de testagem, o discurso de que não sabe desenhar, a priori pode sugerir uma preocupação com a plástica do desenho, mas, na realidade, trata-se de resistência, um mecanismo de defesa, receio de se projetar. De modo geral, “todas as defesas contêm aspectos adaptativos e são indispensáveis para um ajuste adequado à realidade” (PICCOLO, 1995, p.209). É a “melhor solução” (grifo da autora) encontrada pelo sujeito para lidar com as situações, a sua maneira de perceber e conectar-se tanto com a realidade interna quanto com a realidade externa. Em virtude disto, interessa conhecer quais os perigos fantasiados que o ego tenta evitar, e no que acredita como de mais terrível que possa ocorrer caso relaxe essa conduta defensiva (idem, ibid).
Assim como o corpo não mente, e conta coisas sobre a história emocional, e dos mais profundos sentimentos, caráter e personalidade (KURTZ e PRESTERA, 1989), o mesmo pode-se dizer do desenho, que também funciona com uma estrutura similar à grafologia. Assim como na grafologia, o teste do desenho é uma série de atos, de registros gráficos dos movimentos, “quer dizer, como um filme em que o próprio indivíduo plasma, graficamente, seu tipo de inteligência, sua sensibilidade, seus impulsos, suas tendências, suas reações etc.” (VELS, 1997, p.39).
Segundo Vels (1997), a grafologia tem a vantagem de nos dar uma imagem fiel do indivíduo revelada por ele mesmo, sem intermediário e sem risco de inibição e nervosismo que todo teste psicotécnico produz, quando o indivíduo se sente “examinado” (p. 11 - grifo do autor). É verdade que toda situação de testagem gera algum tipo de tensão, mas, se o indivíduo é conhecedor de que sua grafia é objeto de avaliação, por que na grafologia seria diferente? Enfim, no processo psicotécnico,, se destina um tempo para o Rapport8 ou “quebra gelo”, entre outras, para desmistificar os testes, etc., e também para atenuar a ansiedade ou nervosismo dos examinandos (SILVA, 2007).
Tomando por base o exposto poder-se-ia indagar se o treinamento do H-T-P, por exemplo, leva a exposição de desenhos mais satisfatórios? Nunca é demais ressaltar, que não é permitido o treino de qualquer teste psicológico. Isto fere os princípios éticos que regem a categoria, e que está sujeito à invalidação e punição por parte do CFP (Conselho Federal de Psicologia) que regulariza a profissão. Mas, na hipótese de um sujeito recorrer a esse expediente ilegal? Esse macete com o teste do desenho pode até implicar numa vantagem, mas aparente, uma vez que camufla determinados aspectos, mas, dificilmente, não deixará de transparecer as características que, de fato, são inerentes a sua personalidade.
Provavelmente, ficaria um desenho confuso, correndo o risco de que, exatamente por isto, ser preterido, haja vista as incoerências da expressão dos desenhos. Também deve ser considerado o fato de que a avaliação não se dá somente na exclusividade de um desenho ou teste, mas no seu conjunto que subsidia a decisão do examinador. Nesse sentido, Van Kolck (1984) diz que um traço gráfico isolado nada significa. Cada traço deve ser considerado em conexão com os demais e no contexto geral do desenho (p.6). Enfim, o treino não é garantia para assegurar vaga ou carteira de habilitação.
Na perspectiva de ser um psicanalista fazendo outra coisa mais apropriada para a ocasião, Winnicott (apud MENCARELLI e VAISBERG, 2005) propunha uma espécie de jogo de traços e rabiscos no qual cada pessoa deveria finalizar apenas com um desenho esboçado pelo outro. Assim, em poucos encontros era possível chegar ao núcleo problemático do paciente. Apesar desta “deixa” de Winnicott, o desenho na condição de modalidade de teste psicológico é pouco estudado na academia, como conseqüência seu uso, em termos proporcionais, ainda é bem restrito.
Com exceção da ênfase infantil, e do psicotécnico, o teste do desenho não tem uma presença maciça em termo do auxílio que esse recurso pode trazer. Talvez por consistir-se num instrumento de característica rudimentar - todo mundo, de uma forma ou de outra desenha, rabisca, etc., desde os seus primórdios de criança -, não tenha sido valorizado. Segundo Lipovetsky (2005), “não é mais apenas a riqueza do material que constitui o luxo, mas a aura do nome e renome das grandes casas, o prestígio da grife, a magia da marca” (p. 43). Mas este imperativo simbólico, não é exclusivo da moda. Talvez, nesse universo, seja mais explicitamente ditatorial, todavia está também nos mais diversos universos dos segmentos sociais, mesmo no acadêmico, e nem sempre de modo subjacente.
Enfim, os trabalhos mais expressivos em relação ao desenho estiveram voltados para saúde mental a cargo da Nise da Silveira. Esta psiquiatra que não aceitava o eletrochoque - atualmente denominado eletroconvulsoterapia9 - como meio de tratamento, recorreu ao desenho, modelagem e pintura, na sua assistência aos pacientes psicóticos. Em 28 de setembro de 1956, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente.
O desenho está imerso na realidade social, nas suas mais diversas matrizes de arte, seja mediante das obras clássicas, sofisticadas, estilizadas, e até mesmo nas manifestações dos anseios e protestos populares por meio das grafites de rua. Porém, o desenho na sua função de Avaliação Psicológica, não pode se constituir numa tarefa simplória, não se trata de deleitar ou rejeitar conforme o conforto ou incômodo da percepção. Mas, de ir além, traspassar para enxergar, ali, uma vida imbricada noutras vidas, que almejam pela realização de um sonho, atender uma necessidade, e ter uma chance. Finalmente, o teste do desenho tem o dom de veículo que aproxima, e se faz explicitar dos fragmentos, das nuances de luz e sombra, a compreensão. E, assim, se fecha a gestalt de quem ajuda (psicólogo), e de quem espera ser ajudado (paciente, examinado).
Nesse momento, se faz necessário uma breve descrição do H-T-P. Este teste é administrado à criança acima de 8 anos de idade, adolescente e adulto, cuja aplicação pode ser em nível individual ou em grupo. Seu tempo de realização é livre, mas, geralmente, não ultrapassa a média de 30 a 90 minutos. O material utilizado é papel ofício A-4 (tamanho ideal, não pode ser papel com pauta), lápis grafite n. 2 (de modo geral grafite é mais apropriado para desenhar, facilita o controle do tônus muscular sobre os traços, ao passo que o estereográfico é escorregadio). Os desenhos são feitos à mão livre, ou seja, sem régua ou objetos que sirva a essa função. Embora, o uso da borracha, por parte do aplicador, seja optativo, quase sempre compõe o kit, até porque que a sua utilização, por si, já consiste em motivo de análise. Quando se trata de criança, também se utiliza lápis coloridos, no que se constitui, assim, a Bateria Acromática e Cromática do H-T-P.
Na concepção de Buck (2003), o H-T-P tem como objetivo obter informação sobre como uma pessoa vivencia a sua individualidade em relação aos outros, e em facilitar a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflitos, identificados como o propósito de avaliação ou terapêutica. Ainda para o autor, “os desenhos também estimulam o estabelecimento de interesse, conforto e confiança entre o examinador e o cliente”(p.2). Sua técnica se respalda no “conceito de que os desenhos da figura humana”, bem como os da casa e da árvore, “são úteis para o estudo da personalidade ou como meio de diagnóstico na avaliação clínica, e se fundamenta na teórica na psicologia da imagem de si mesmo, assim como na teoria psicanalítica da projeção” (HARRIS, 1981, p.57- grifo nosso).
Para Levy (apud TRINCA, 1987), o desenho além de projetar a imagem corporal, usualmente compõe uma gama de projeções relacionadas ao autoconceito, a imagem ideal do eu, e as atitudes para com os outros, mesmo com o examinador na situação da testagem. O teste do desenho pode ser uma expressão consciente, como também incluir símbolos disfarçados e fenômenos inconscientes. O desenho da figura humana, segundo Alves (apud WECHSLER, 2003), é uma das medidas mais utilizá-las pelos psicólogos brasileiros, na maioria das vezes com o intuito de avaliação emocional mais do que cognitiva. A freqüência da utilização dessa técnica, certamente, se deve a sua composição simples, aparentemente objetiva e de baixo custo financeiro (HUTZ e BANDEIRA apud WECHSLER, 2003).
Ao examinando é solicitado, geralmente, um mínimo de três desenhos, e, em seguida se conduz o Inquérito1. Nessa etapa do Inquérito é extraído o maior número possível de informações e descrições subjetivas que o examinando discorre sobre cada uma das figuras grafadas. Cabe ressaltar que, na clínica, esse manejo é bem mais favorável de se consolidar do que num exame psicotécnico, por se tratar, quase sempre, de grupo. Para Deleuze (1997), o devir não é imaginário, bem como uma vigem não é real, ele faz do mínimo de um trajeto ou da sua imobilidade no mesmo lugar, uma viagem; e é esse percurso que leva o imaginário a um devir. Ao trazer esta afirmativa deleuziana para o contexto desta discussão, diríamos que este teste é o “devir”, e que o examinando é o “imaginário”. Daí a importância do Inquérito. Este, junto ao desenho funda as disposições de acesso ao indivíduo, com significativa e vertical compreensão do seu Eu.
Em outras palavras, é a fala do examinado, no seu sincero propósito de colaborar com o processo, que vai dar mais sentido, e legitimar mais ainda as expressões dos seus desenhos. Afinal, “toda linguagem é uma linguagem exposta à emergência dos efeitos do inconsciente” (NASIO, 1993, p.79). Nessa perspectiva, Deleuze (2006) ressalta que a estrutura se estabelece daquilo que é linguagem, seja ela esotérica ou não-verbal, do mesmo modo em que “só há estrutura do inconsciente à medida que o inconsciente fala e é linguagem” (DELEUZE, 2006, pp.238-9). O desenho é uma outra forma de linguagem por meio do qual o inconsciente também se manifesta. Para Campos (1999) o desenho na vez de técnica projetiva reflete uma impressão do “todo” do indivíduo, como uma “Gestalt”2 organizada, que aparece em toda a sua extensão, pelo olhar do examinador experiente na técnica da interpretação de desenho (grifos da autora).
A autora acredita que tudo esta no desenho, cada linha e parte em suas relações com as outras, o aspecto da sua elaboração com um todo apresenta um efeito unificado, diferente do Rorschach que, além de não apresentar tal clareza de interpretação, necessita de cálculos e escores. Enfim, “a projeção do Desenho é apreendido pelo clínico com uma unidade; o Rorschach deve ser tratado parte por parte” (CAMPOS, 1999, p.27). Por questões inerentes à conduta para com os testes psicológicos, não é possível esmiuçar aqui o significado específico do H-T-P, ou seja, em que se consubstanciam seus itens, isto, se não o invalidaria, entretanto retiraria um pouco do seu impacto avaliativo.
Existem os desenhos projetivos a exemplo do Zulliger (aplicação individual ou coletiva, por meio de slides ou apresentação de 3 cartões ou lâminas), e do Rorschach (aplicação somente individual, mediante a apresentação de 10 cartões ou lâminas), com os seus famosos borrões de tinta que se constituem de estímulos ambíguos. O indivíduo descreve, verbalmente, como os percebe. Feito isso, terá que destacar com lápis de cores variadas nas folhas de localização, uma espécie de marca d`água, os locais nos quais as imagens inspiraram suas respostas. O H-T-P é um teste projetivo, mas gráfico, isto o diferencia destes outros citados.
Os três desenhos do H-T-P trabalham com a mesma deliberação tendo em vista para a interpretação das características da personalidade,estado emocional, transtorno mental3 e outros. Convém salientar que, este teste, apesar da sua relevância tende a denotar aspectos patológicos dos quais quase ninguém escapa. Assim sendo, a praxe recomenda a aplicação de mais de um teste de personalidade quando da avaliação do item específico: Personalidade, e da importância de que o avaliador perceba em quais situações deve relativisar os seus dados qualitativos.
Segundo Van Kolck (1984), o indivíduo ao atender à solicitação - “desenhe uma pessoa” - lança sobre o papel a imagem corporal que possui e que se torna veículo de expressão de sua personalidade (p.14). A autora acrescenta que essa imagem não é apenas consciente, mas também construída como base no corpo do outro, e que não está ligada somente à aparência, mas, em especial, a qualidade da relação. A folha de papel em branco representa o mundo externo do indivíduo que nos desenhos livres é ocupada por objetos diversos sem conexão entre si, ou, pelo contrário, isolados, ou mesmo vazios de conteúdos (PICCOLO, 1995), e, por vezes, porque não, bem distribuídos, relacionados e harmonizados.
O sistema inconsciente, estranhamente, é colocado em dúvida por Nasio (1993), ao mesmo tempo em que indica o suposto lugar do seu trânsito. Para o autor, “se o inconsciente existe, ele só pode existir no interior do campo da psicanálise e, mais precisamente, no interior do campo do tratamento analítico” (p.49). Diríamos que o inconsciente está na vida, no cotidiano das pessoas, e em toda atuação psicológicas, embora umas abordagem priorizem, outras o pretira ou ignore. O inconsciente não é uma invenção de Sigmund Freud, nem patente da psicanálise. Segundo Mueller e Hergenhahn (apud GORSKI, 2005), se atribuem ao filósofo Gottfried W. Leibniz a descoberta do inconsciente muito antes de Freud tocar nessa tecla.
O desenho é uma das mais autênticas expressões do testando, uma vez que capta, em particular, conteúdos inconscientes, sem a sua intervenção. Embora ele possa até intuir que algo do seu interior, do seu Eu, irá torná-lo conhecido, mas não consegue ter o controle sobre o que será exposto. Isto certamente o angustia bem mais, porque o deixa vulnerável. Porém, a intenção não é deixá-lo numa situação desconfortável. Mas, esse teste se estrutura de tal modo que o examinando não consegue manipular informações ao seu favor. Posto que, ele não tem noção de quais aspectos dos desenhos serão considerados favoráveis ao seu caso.
Com exceção de figuras estereotipadas - a exemplo de coqueiro, bananeira e pessoa unidimensional ou feita de “palitos”-, que são impróprias para serem analisados porque não oferecem material suficiente, no teste do desenho não tem resposta certa nem errada. Logo, todos os componentes dos desenhos são analisáveis. A grosso modo, o H-T-P se compara a uma radiografia psíquica. Considerado o fato de que o candidato ou examinado não tem controle sobre os testes, durante o processo de seleção ou avaliação o mais sensato é procurar relaxar (fazer exercícios respiratórios, e manter os pés bem apoiados no chão, sobretudo e de maneira moderada nos momentos antecedem a sua realização, são fundamentais), e ariscar-se em: “Ser a própria pessoa, sem subterfúgios, ou representar algum personagem”, e ser cooperativo às realizações e às solicitações da demanda diagnóstica ou psicométrica. Uma vez que assim proceda, e essa postura é válida para todos os testes, estará facilitando uma melhor denotação do seu potencial, e como conseqüência um resultado mais satisfatório do seu desempenho.
Para um melhor entendimento do trabalho prático com desenhos, a seguir serão apresentadas quatro vinhetas de dois casos clínicos, e de dois exames psicotécnicos. Um paciente, médico, estava em crise no casamento. A sua esposa se queixava que isto se devia, em grande parte, à relação simbiótica do marido com os parentes, em especial ao seu apego à mãe viúva. O que era, veementemente, negado por ele, que se dizia independente e acostumado a se “virar” sozinho. Portanto, está casado ou solteiro lhe parecia, apesar deste seu segundo matrimônio, ser indiferente, etc. Solicitei que ele desenhasse a sua família.
Depois de relutar, de questionar a utilidade do desenho, meio indisposto do tipo: “Só vou fazer porque não tenho outra alternativa”, com o lápis esgrimiu rápidos golpes no papel. Este gesto que também tem outras significações, aqui se restringirá ao que foi explicitado: Quatro esboços do mesmo tamanho, similares, e um apêndice junto e a esquerda do primeiro esboço da seqüência. Cada garatuja como se fossem parênteses sobrepostos. Um menor “a cabeça”, em cima de um outro maior “o tórax”, e a base do primeiro, bastante rechonchuda em relação aos demais, representando os quadris.
Quando do Inquérito, apontei para que os nomeasse, o dos quadris largos era sua mãe, o apêndice que sugeria algo como: “Preso à barra da sua saia”, o paciente se auto-reconheceu, e os outros eram seus irmãos. Sugeri que fizesse um outro desenho, mas, com a sua família: mulher e filho (esta fora a intenção inicial). Desta vez apareceram figuras, mas sem se tocarem: Um homem, na direita do papel, olha para o oeste; uma mulher no seu lado esquerdo, olha para o leste, e uma criancinha dava a impressão de engatinhar alheia ao casal. Ao chamar sua atenção para estes detalhes, o paciente se conscientizou das suas dificuldades, e pareceu disposto a repensar e a assumir seu casamento.
Um outro paciente, este já em fase de ser liberado para cirurgia bariátrica, se dizia muito bem, e que havia superado o trauma de hospital, etc. Sugeri que ele fizesse a cena desse dia tão sonhado. No desenho bem elaborado - não quer dizer bonito, perfeito, mas, que seus componentes estão nitidamente representados -, se evidenciou uma figura de barriga enorme, deitada na mesa de cirurgia sob um grande refletor, e com os olhos arregalados em direção à porta. Ao longo do seu corpo três pessoas identificadas como o cirurgião, a anestesiologista e uma enfermeira. Com base nesse “olhar de pavor com desejo implícito de fuga”, ele resolveu adiar a cirurgia, por uns quinze dias, com o objetivo de explorar um pouco mais esse medo.
Uma examinada, no psicotécnico, achou que a perfeição do desenho seria considerada, daí reforçou e retocou todos os desenhos. Seu H-T-P ficou bizarro, e adquiriu uma outra conotação. Esse fato junto à mesma atitude no Teste Palográfico de reforçar os traços (palos), quando da contagem dos mesmos, contribuíram para a sua não indicação. Num concurso público bastante concorrido, uma candidata à vaga de Agente de investigação (função fictícia para dificultar associações), de repente, por conta de uma pergunta da sua concorrente, durante a realização de um teste, ficou agressiva, e bastante exaltada. Seu protesto tinha um pouco de pertinência, houve de fato uma pequena interferência, mas que não devia ter ocorrido. Porém, não chegara a prejudicar o andamento do todo.
Quando reunidos para discutirmos o caso, a psicóloga e o estagiário responsáveis pela sala, estavam se sentindo profundamente culpados e incompetentes. Na função de um dos membros da coordenação do evento, chamei a atenção de que lhes tinha faltado uma prontidão para conter essa interferência, mas que a reação da moça fora exageradamente desproporcional ao incidente. Na análise do seu teste, todos os desenhos, em especial o da figura humana apresentava vários indicativos de intensa agressividade. Chegou-se a conclusão de que a sua agressividade e tensão não eram reacional a situação da testagem, mas constitucional à sua personalidade. A candidata foi considerada, temporariamente, inapta para o cargo.
O desenho tem a função de estabelecer contato, investigação e tratamento. Na comunicação verbal o examinado poderá tentar conduzir, com seus argumentos, o interlocutor para determinado foco, persuadi-lo para o que julga ser crucial para conquistar a vaga. Daí a grande vantagem do desenho, o indivíduo não tem a chance de exercitar esse artifício. Assim como o corpo fala, o desenho diz por meio do inconsciente, aquilo que, por cautela ou autocensura, o seu autor não se permite verbalizar. No psicotécnico, os traços de personalidade identificados nos desenhos são comparados ao perfil que se exige para o cargo. Nesse caso, por vezes, sujeitos de elevado nível cultural e consideráveis características pessoais, não são contempladas. Do mesmo modo que, um outro, com menos potencial poderá se adequar melhor a essa função.
Num primeiro momento, esse processo, parece meio sem lógica e, em particular, cruel. Deve-se lembrar que este sistema é capitalista, e que a escolha de um candidato se dá em relação a diversos fatores. Alguns são bem específicos de cada empresa ou processo seletivo. Por exemplo, numa empresa na qual não haja perspectiva de ascensão funcional, colocar uma pessoa com elevado nível de escolaridade, inteligente, e criatividade, numa função “elementar”, sem possibilidade de crescimento, seria condená-la ao desajuste. Também seria motivo de constrangimento indicar uma outra para uma colocação que está além do seu potencial. Ela se desgastaria para atingir um nível razoável de satisfação produtiva, ou não atingiria, gerando frustração, ou mesmo, algo mais sério. Segundo Codo e Vasques-Menezes (apud ABREU et al., 2002), as pessoas entram em burnout4 ao se sentirem incapazes de investir em seu trabalho, e em conseqüência da incapacidade de lidar como o mesmo.
Um processo seletivo não é pensado em ternos emergenciais. Entre outros, também porque, contratação no Brasil, implica em encargos sociais altíssimos, etc. Na situação de desempregado há disposição sim, mas que, se não forem seguidos os parâmetros racionais de seleção, não há nenhuma segurança de que seja mantida. Atendida as necessidades básicas de subsistência, outras ocuparão o campo psicológico do indivíduo. Assim sendo, vem à tona o velho jargão, de que somente “o casamento da pessoa certa com a função”, poderá resistir às intempéries ocupacionais.
Entre os desenhos, é o da figura humana geralmente o mais realizado, mas, paradoxalmente, é também o mais rejeitado. Para Buck (2003), isso está associado ao nível de desajustamento do sujeito, uma vez que evidencia, mais diretamente, as dificuldades das relações interpessoais e a consciência corporal, mais do que a casa ou árvore. No que se refere aos dados de inteligência, aptidões, etc., feitas as suas devidas ponderações, pode se considerar os mais elevados escores ou percentuais. Ao passo que, na avaliação ou análise da personalidade propriamente dita, os aspectos mais comprometedores são vistos em relação à capacidade adaptativa. Junto a outros itens que poderão ajudar o paciente a superar as suas dificuldade, e, no caso do examinado, no psicotécnico, a enfrentar as situações. Por conseguinte, tenta-se fazer prevalecer o princípio de que, a parte mais saudável, uma vez destacada e valorizada, favorece as outras mais afetadas: “Como alguém conta comigo, eu sou responsável por minha ação perante o outro” (RICOEUR apud SENNETT, 2002: 174). Todo paciente, etc., por mais comprometido que pareça sempre apresenta algum “gancho” como ponto de partida para a sua ajuda.
Porém, nem sempre é fácil de desvelar áreas conflitivas, para perceber os potencias de um candidato, é preciso técnica e atenção, e, no caso clínico, paciência, bem como persistência, para encontrar e alargar as arestas que contribuam para a “cura” do paciente ou remissão do seu sintoma. Van Kolck (1984) salienta que além da projeção5, mecanismos como identificação6 e introjeção7 podem se manifestar, mas certamente a expressão e a adaptação são os dois processos que ocupam lugar de importância quando o desenho é concretizado. A adaptação, expressão e projeção, segundo a autora, estão explícitas no ato de desenhar. Assim sendo, mais do que qualquer outra especificidade de produção pessoal, deve ser visto com bastante critério os aspectos: Adaptativo que diz respeito à adequação à tarefa solicitada, sua correspondência em relação à faixa etária, sexo e, eventual, patologia; Expressivo que analisa o estilo característico da resposta que se mostra por meio gráfico da forma; e o Projetivo que verifica as situações e objetos que denotam conteúdo e a maneira de tratar o tema.
No teste do desenho, embora seu enunciado se refira “ao melhor que o examinado possa desenhar”, a estética ou beleza artística não é considerada, mas os conteúdos que estão representados. Histórias, críticas, sentimentos e emoções verbalizados durante a aplicação e no inquérito são dados complementares que podem até colaborar com o fechamento do Parecer de um Laudo. Tudo que o indivíduo faz, diz, escreve, desenha é uma projeção do seu Eu, ou são fragmentos de si mesmo. Ele pode até não ser exatamente aquilo, mas está de alguma forma, por meio desses sinais, representado. Van Kolck (1984) cogitar que há “casos de rejeição em graus diferentes de intensidade, a partir da negação a desenhar até o não complemento do desenho”(p.10 - grifo da autora).
Na situação de testagem, o discurso de que não sabe desenhar, a priori pode sugerir uma preocupação com a plástica do desenho, mas, na realidade, trata-se de resistência, um mecanismo de defesa, receio de se projetar. De modo geral, “todas as defesas contêm aspectos adaptativos e são indispensáveis para um ajuste adequado à realidade” (PICCOLO, 1995, p.209). É a “melhor solução” (grifo da autora) encontrada pelo sujeito para lidar com as situações, a sua maneira de perceber e conectar-se tanto com a realidade interna quanto com a realidade externa. Em virtude disto, interessa conhecer quais os perigos fantasiados que o ego tenta evitar, e no que acredita como de mais terrível que possa ocorrer caso relaxe essa conduta defensiva (idem, ibid).
Assim como o corpo não mente, e conta coisas sobre a história emocional, e dos mais profundos sentimentos, caráter e personalidade (KURTZ e PRESTERA, 1989), o mesmo pode-se dizer do desenho, que também funciona com uma estrutura similar à grafologia. Assim como na grafologia, o teste do desenho é uma série de atos, de registros gráficos dos movimentos, “quer dizer, como um filme em que o próprio indivíduo plasma, graficamente, seu tipo de inteligência, sua sensibilidade, seus impulsos, suas tendências, suas reações etc.” (VELS, 1997, p.39).
Segundo Vels (1997), a grafologia tem a vantagem de nos dar uma imagem fiel do indivíduo revelada por ele mesmo, sem intermediário e sem risco de inibição e nervosismo que todo teste psicotécnico produz, quando o indivíduo se sente “examinado” (p. 11 - grifo do autor). É verdade que toda situação de testagem gera algum tipo de tensão, mas, se o indivíduo é conhecedor de que sua grafia é objeto de avaliação, por que na grafologia seria diferente? Enfim, no processo psicotécnico,, se destina um tempo para o Rapport8 ou “quebra gelo”, entre outras, para desmistificar os testes, etc., e também para atenuar a ansiedade ou nervosismo dos examinandos (SILVA, 2007).
Tomando por base o exposto poder-se-ia indagar se o treinamento do H-T-P, por exemplo, leva a exposição de desenhos mais satisfatórios? Nunca é demais ressaltar, que não é permitido o treino de qualquer teste psicológico. Isto fere os princípios éticos que regem a categoria, e que está sujeito à invalidação e punição por parte do CFP (Conselho Federal de Psicologia) que regulariza a profissão. Mas, na hipótese de um sujeito recorrer a esse expediente ilegal? Esse macete com o teste do desenho pode até implicar numa vantagem, mas aparente, uma vez que camufla determinados aspectos, mas, dificilmente, não deixará de transparecer as características que, de fato, são inerentes a sua personalidade.
Provavelmente, ficaria um desenho confuso, correndo o risco de que, exatamente por isto, ser preterido, haja vista as incoerências da expressão dos desenhos. Também deve ser considerado o fato de que a avaliação não se dá somente na exclusividade de um desenho ou teste, mas no seu conjunto que subsidia a decisão do examinador. Nesse sentido, Van Kolck (1984) diz que um traço gráfico isolado nada significa. Cada traço deve ser considerado em conexão com os demais e no contexto geral do desenho (p.6). Enfim, o treino não é garantia para assegurar vaga ou carteira de habilitação.
Na perspectiva de ser um psicanalista fazendo outra coisa mais apropriada para a ocasião, Winnicott (apud MENCARELLI e VAISBERG, 2005) propunha uma espécie de jogo de traços e rabiscos no qual cada pessoa deveria finalizar apenas com um desenho esboçado pelo outro. Assim, em poucos encontros era possível chegar ao núcleo problemático do paciente. Apesar desta “deixa” de Winnicott, o desenho na condição de modalidade de teste psicológico é pouco estudado na academia, como conseqüência seu uso, em termos proporcionais, ainda é bem restrito.
Com exceção da ênfase infantil, e do psicotécnico, o teste do desenho não tem uma presença maciça em termo do auxílio que esse recurso pode trazer. Talvez por consistir-se num instrumento de característica rudimentar - todo mundo, de uma forma ou de outra desenha, rabisca, etc., desde os seus primórdios de criança -, não tenha sido valorizado. Segundo Lipovetsky (2005), “não é mais apenas a riqueza do material que constitui o luxo, mas a aura do nome e renome das grandes casas, o prestígio da grife, a magia da marca” (p. 43). Mas este imperativo simbólico, não é exclusivo da moda. Talvez, nesse universo, seja mais explicitamente ditatorial, todavia está também nos mais diversos universos dos segmentos sociais, mesmo no acadêmico, e nem sempre de modo subjacente.
Enfim, os trabalhos mais expressivos em relação ao desenho estiveram voltados para saúde mental a cargo da Nise da Silveira. Esta psiquiatra que não aceitava o eletrochoque - atualmente denominado eletroconvulsoterapia9 - como meio de tratamento, recorreu ao desenho, modelagem e pintura, na sua assistência aos pacientes psicóticos. Em 28 de setembro de 1956, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente.
O desenho está imerso na realidade social, nas suas mais diversas matrizes de arte, seja mediante das obras clássicas, sofisticadas, estilizadas, e até mesmo nas manifestações dos anseios e protestos populares por meio das grafites de rua. Porém, o desenho na sua função de Avaliação Psicológica, não pode se constituir numa tarefa simplória, não se trata de deleitar ou rejeitar conforme o conforto ou incômodo da percepção. Mas, de ir além, traspassar para enxergar, ali, uma vida imbricada noutras vidas, que almejam pela realização de um sonho, atender uma necessidade, e ter uma chance. Finalmente, o teste do desenho tem o dom de veículo que aproxima, e se faz explicitar dos fragmentos, das nuances de luz e sombra, a compreensão. E, assim, se fecha a gestalt de quem ajuda (psicólogo), e de quem espera ser ajudado (paciente, examinado).
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