quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Ciúmes
O que se esconde por trás do ciúme? Alguns acreditam que é afeto, outros que é a prova incondicional de um grande amor e, os mais sensatos, que é posse.
Me incluo na categoria dos que enxergam o ciúme como uma forma distorcida e negativa de amor. Seria na verdade a negação do amor, porque negar a liberdade de escolha, de movimentos, de ir e vir de alguém, com certeza é a antítese do amor.
As pessoas não são propriedades, objetos que se dispõe na prateleira mais alta do armário, inacessíveis aos olhos e a cobiça alheia. Pessoas se relacionam. Guardar o amado ou amada a sete-chaves, pensando que assim ele ou ela vai ficar livre da tentação de se apaixonador por outro é ingenuidade. O que constrói relações é a sinceridade e não a possessividade. Ninguém está isento de ser atraído por outra pessoa, mas o que vai determinar o desfecho da história não é colocar um GPS no coração do amado (a) e sim a base em que a relação foi construída. Se existe amor, se existe respeito, se existe cumplicidade, certamente a pessoa vai pensar duas vezes, pesar prós e contras, antes de abrir mão de um relacionamento tão bom, pela incerteza de um novo.
E se ela se jogar de cabeça na novidade, então é porque a história de amor cor-de-rosa e eterna só existia na imaginação de um dos pares e alguma coisa estava errada com o casal.
Tentar controlar a quem se ama é o primeiro passo para perder a pessoa, afastá-la. Todo ciumento é um egoista, um adulto que não superou a egocentria da infância. Concordo com o autor francês François de la Rochefoucauld. Ele dizia que no ciúme há mais amor próprio que amor ao outro. E é verdade. Quem já se envolver com um ciumento (a) sabe que ele ou ela cultivam mais o orgulho de sentir ciúmes do que a preocupação com o bem-estar do parceiro (a).
Ciúme incomoda, aprisiona, sufoca. No início da relação, aquele namorado (a) que liga insistentemente de dez em dez minutos parece bonitinho, romântico, no final de alguns meses, quando a cegueira da paixão dissipa e a gente olha para dentro da relação e vê se ela tem consistência, aquele excesso de atenção, beirando a paranóia, já não tem graça. Aristóteles já descrevia o ciúme, no secúlo IV a.C, como um sentimento profundo de inveja, de querer o que é do outro.
Faz sentido se imaginarmos que o ciumento quer a liberdade do outro em troca de uma promessa de amor incondicional. Ele quer submissão. Mas, começar uma história de amor submetendo-se, contrariando a própria vontade para apenas agradar o outro é um caminho certeiro para o fracasso.
De filósofos a romancistas, de psicanalistas como Freud, que escreveu um tratado sobre a patologia do ciúme, a cineastas como Ettore Scola, o ciúme é tema que, apesar da carga negativa que traz, não sai da moda.
Muitos desatinos já se cometeu em nome de ciúme, embora os desatinados digam que é em nome do amor.
Ainda citando de la Rochefoucauld: “O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele”.
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