Os corpos celestes sempre atraíram a curiosidade e o interesse humano, em todas as culturas. A regularidade e precisão inalteráveis do movimento dos astros foram com certeza uma imagem poderosa na formação de uma ideia de "tempo transcendente", concebido como eternidade, em contraste com o mundo de incessantes alterações e os acontecimentos inesperados vividos no tempo terreno. O retorno cíclico dos fenómenos siderais e de processos naturais terrestres projectou-se, em algumas culturas, na concepção cíclica do tempo. . Nas escrituras hinduístas e budistas, elaborou-se um complexo sistema de mundos que desaparecem e ressurgem, sempre num total de quatro. Essa concepção cíclica determinou a adaptação de relatos védicos anteriores e o desenvolvimento de uma doutrina que explica a formação e absorção periódicas do universo como fases de actividade e repouso de energia. Os ascetas e os maias acreditavam que o mundo actual. havia sido precedido de outros quatro, o último dos quais teria sido destruído por um cataclismo; ambos os povos desenvolveram um complicado calendário, a cujo estudo se dedicavam vários sacerdotes astrónomos. A concepção linear e progressiva de tempo (oposta à repetição cíclica) é característica das chamadas religiões históricas -- judaísmo, cristianismo, islamismo --, que afirmam a intervenção de Deus na história, num acontecimento único e irrepetível, e a existência de uma meta final de salvação da humanidade.
Mitos de transformação e de transição
Numerosos mitos narram mudanças cósmicas, produzidas ao término de um tempo primordial anterior à existência humana e graças às quais teriam surgido condições favoráveis à formação de um mundo habitável. Outras grandes transformações e inovações, como a descoberta do fogo e da agricultura, estão associadas aos mitos dos grandes fundadores culturais. Nos mitos, são frequentes as transformações temporárias ou definitivas dos personagens, seja em outras figuras humanas ou em animais, plantas, astros, rochas e outros elementos da natureza. As mudanças e transformações que se dão nos momentos críticos da vida individual e social são objecto de particular interesse mitológico e ritual: nascimento, ingresso na vida adulta, casamento, morte - acontecimentos marcantes para a pessoa e sua comunidade -são interpretados como actualizações de processos cósmicos ou de realidades míticas.
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