terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Eu Transcendente


O mito está directamente ligado à nessecidade do ser humano se transcender através da sua espiritualidade, das suas crenças, das suas fés. O mito surge então como um guia, como um exemplo, que acalma os “espiritos” mais descontentes com a realidade, ajudando-os a adaptarem-se à sua realidade. Por isso resolvi transcrever o excerto seguinte de Mihaly Csikszentmihalyi, que penso que descreve bem a transcendência do eu, e a necessidade do eu transcendente e da espiritualidade Humana:
“Na maior parte das culturas que atingiram a complexidade de civilização, as qualidades tidas em mais alta estima são as envolvidas nos processos mentais de um caracter particular a que, à falta de melhor palavra chamaremos “espiritual”. As competências espirituais incluem a habilidade de controlar directamente a experiência, manipulando os menes( herança cultural, transmitida ao longo dos séculos), que aumentam a harmonia entre os pensamentos, emoções e vontades da pessoa. Aqueles que exercem estas competências são chamados Xamãs, sacerdotes, filósofos, artistas e homens, ou mulheres, sábios dos mais variados tipos. São respeitados e recordados, e mesmo que não lhes sejam concedidos poder ou dinheiro, os seus conselhos são ouvidos, e a sua própria existência é acarinhada pelas comunidades em que vivem.
À primeira vista, é difícil compreender por que razão as contribuições espirituais são consideradas tão importantes pela maioria das sociedades. De um ponto de vista evolutivo, poderia parecer que não têm qualquer valor prático em termos de sobrevivência. Os esforços dos agricultores, construtores, comerciantes, cientistas, etc...produzem benefícios óbvios e concretos; e a actividade intelectual o que produz?
O que é comum a todas as formas de espiritualidade é a tentativa de reduzir a entropia na consciência. A actividade espiritual visa produzir harmonia entre desejos contraditórios, esforça-se por encontrar significado nos acontecimentos casuais da vida e tenta reconciliar os objectivos humanos com as forças que se lhes opõem a partir do meio. Aumenta a complexidade ao clarificar as componentes da experiência individual, tais como o bom e mau, amor e ódio, prazer e dor. procura expressar estes processos em menes que sejam acessíveis a todos e ajuda a integrá-los uns nos outros, bem como , no meio exterior.
Estes esforços para levar harmonia à mente baseiam-se frequentemente, mas não sempre, numa crença em poderes sobrenaturais. Muitas “religiões”orientais, e filosofias estóicas da antiguidade, tentaram desenvolver uma consciência complexa sem o recurso a um ser supremo. Algumas tradições espirituais, com o ioga hindu ou o taoismo, concentram-se exclusivamente em conseguir harmonia e o controlo da mente sem qualquer interesse a entropia social, outras, como a tradição confuciana, visavam primariamente estabelecer a ordem social. Em todo caso, se a importância atribuída a estas tentativas pode servir de indicador, a redução do conflito e da desordem através de meios espirituais parece ser muito adaptativa. Sem elas é provável que as pessoas ficassem cada vez mais desencorajadas e confusas, e que a guerra hobbesiana de “todos contra todos” se tornasse uma característica mais proemimente da paisagem social do que já é”.
Mihaly Csikszentmihalyi, Novas Atitudes Mentais, pág.227/228

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